Meus alunos do 8º ano prepararam uma festa surpresa de aniversário para mim e para a professora de educação física.
A organização escolar, no entanto, não permite que sejam feitas festas para professores, já que isto gera problemas no coletivo.
Não acredito que isto tenha sido uma retaliação a mim. Acho, na verdade, que a gestão da escola me protegeu de um constrangimento com os outros professores.
Os alunos não entenderam assim. Ficaram chateados e constrangidos.
Para acalmá-los escrevi uma carta sobre o meu relacionamento com eles. Segue a carta:
Queridos Alunos
Já contei para vocês que eu trabalhei em um hospital?
Esta experiência fez toda a diferença. Me fez valorizar as pequenas coisas da vida, já que ela é muito frágil e curta. Vi pacientes com dificuldades básicas: não conseguiam fazer xixi, coco, comer. Conheci um paciente que há dez anos só comia macarrão.
Comecei a refletir se é preciso estar doente para aproveitar a vida, ficar com quem se ama. Hoje acredito que não.
Quando sai do hospital, por vontade própria, não tinha mais prazer no trabalho. Tudo o que eu fazia não tinha mais sentido. Meu trabalho já não interferia mais na vida das pessoas.
Quando minha filha nasceu comecei a acompanhar o seu desenvolvimento e compreender o seu crescimento. Passei a olhar de maneira diferente para os alunos e valorizar mais o que eu fazia.
Vocês vieram nesta fase, e com vocês aprendi a dar o melhor de mim. Não tenho a ilusão de que sou fundamental na vida de vocês, não sou. Mas sei que um pouquinho do que a gente viveu junto vai permanecer para vocês e para mim, independente do que acontecer, independente de onde estivermos no futuro.
É muito bom saber que este carinho, respeito e amor que sinto por vocês é correspondido.
Desculpe se a dinâmica da escola às vezes não permite que comemoremos mais as nossas afinidades. A escola é assim, precisa de regras e organização.
Não vai faltar oportunidades para compartilharmos momentos de prazer. A aprendizagem, afinal de contas, é um desse momentos.
Estaremos sempre juntos.